A culpa lançada em rede social, a falta de provas e o nome do suspeito no jornal

As primeiras páginas do jornal The Sun no filme The Paper.
As primeiras páginas do jornal The Sun no filme The Paper.

Vamos aos fatos. O sujeito é preso. A polícia tem indícios de culpa e chega a informar para a imprensa a prisão. Pede aos repórteres para não divulgar o nome, o que é acatado. Entra a população em cena, via redes sociais, e faz aquele alvoroço. Divulga nome, sobrenome, link para o perfil no Facebook do suspeito. Qual o papel da imprensa a partir daí?

Não sou catedrático da academia de Jornalismo, muito menos um decano da área que para si cai o respeito dos colegas, mas digo a vocês que, a partir disso, esconder o “sol com a peneira”, não é o certo.

O papel do jornalista, na função de repórter, caso queira ser o primeiro a dar o furo de reportagem, é apurar o caso para poder afirmar ou não a presença de indícios irrefutáveis da culpa do acusado. Lembro aqui o filme The Paper (1994), quando o personagem de Michael Keaton (Henry Hackett) ouve fontes oficiosas da polícia para poder dar a informação certa. Não ficaram à espera da fonte oficial, que queria, às pressas, apresentar culpados de um duplo homicídio para a sociedade.

Bem, mas se o caso não for este, ou, ainda, se ninguém pode dar a informação elucidativa, o que fazer diante do vazamento de imagens e nomes pelas redes sociais, neste momento, de meros acusados, suspeitos? Ora, amigos colegas repórteres, bem-vindos a era (tardia para alguns) da internet.

Informações divulgadas nas redes sociais, em especial as vinculadas a crimes hediondos ou polêmicas sexuais, são rastilho de pólvora. Não deve pois o repórter supor que sua audiência no jornal impresso, na rádio ou na TV ficará acima do alcance em rede social.

Deve o repórter, portanto, informar o leitor, ouvinte, telespectador (online ou não) o que está acontecendo, simples assim. Informar que perfis (e aqui, se em modo público, pode-se até citar os envolvidos), expuseram o acusado. Informar que o citado em rede social ainda não foi acusado oficialmente e muito menos condenado. Que a exposição de imagens e nome foi arbitrariamente divulgada pelos perfis. Mas não mais se fingir, o repórter, de desinformado ou ser omisso.

Repórteres em geral têm escrúpulos de divulgar nomes de ainda acusados ou suspeitos. Simplesmente correto. Quando criminosos confessos ou presos em flagrante, por favor, este escrúpulo pode dar lugar a informação certa, sem escusas aos aprisionados.

Agora, diante da ousadia (vamos chamar assim) de pessoas pouco zelosas com a vida dos outros em redes sociais, nossa nova janela para o mundo, temos que agir para o bem do leitor e das pessoas que lançamos à notoriedade nas apurações do cotidiano.

Achar que o que está nas redes sociais não afeta a apuração jornalística é miopia. Omitir informação é feio.

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