Tópico de Capricórnio e Sexus, Plexus e Nexus

Proibido nos Estados Unidos por quase 30 anos por causa de seu conteúdo sexual explícito, Trópico de Capricórnio, associado a Trópico de Câncer, narra a vida de Henry Miller na cidade de Nova York dos anos 1920. Famoso por seu retrato franco da vida nos bairros étnicos do Brooklyn e pelas ultrajantes façanhas sexuais do autor. Trópico de Capricórnio é também mais direto na narrativa. Sem as longas digressões do livro anterior.

Trópico de Capricórnio é o segundo romance semi-autobiográfico de Henry Miller. Foi publicado pela primeira vez pela Obelisk Press, em Paris, em 1939. Uma espécie de prequel (trabalho literário, dramático ou cinematográfico cuja história precede a de um trabalho anterior, concentrando-se em eventos que ocorrem antes da narrativa original) do primeiro romance publicado de Miller, Trópico de Câncer, de 1934.

Assim como o primeiro livro, foi proibido nos Estados Unidos até o Departamento de Justiça, em 1961, declarar que seu conteúdo não era obsceno.

“Ninguém escreveu dessa maneira antes, e ninguém certamente escreverá tão bem. A prosa de Miller é uma torrente, uma catarata, um vulcão, um terremoto […] um escritor-atleta, um fenômeno, um verdadeiro avatar de energia literária”.

“Ninguém escreveu dessa maneira antes, e ninguém certamente escreverá tão bem. A prosa de Miller é uma torrente, uma catarata, um vulcão, um terremoto […] um escritor-atleta, um fenômeno, um verdadeiro avatar de energia literária”.

Norman Mailer

Publicação

Trópico de Capricórnio foi publicado na França, em inglês, pela Obelisk Press em fevereiro de 1939. Uma tradução para o francês apareceu como Tropique du Capricorne em julho de 1946. As vendas do livro, juntamente com o Trópico de Câncer, foram impulsionadas pela controvérsia em torno de sua censura, com queixas contra Miller e seu editor por acusações de pornografia.

Nas décadas de 1940 e 1950, os livros de Miller eram difíceis de encontrar e caros. Os livros proibidos eram ocasionalmente contrabandeados para os EUA, embora fossem frequentemente apreendidos pela alfândega. Em 1944, acompanhado da futura esposa Janina Martha Lepska, Miller leu trechos de Trópico de Capricórnio e Black Spring (Primavera Negra, não em catálogo no Brasil) na Biblioteca do Congresso em Washington, DC.

Depois que a Grove Press publicou o romance nos EUA em setembro de 1962, Miller ganhou uma nova geração de leitores por seu trabalho, que coincidiu com a revolução sexual da década de 1960. Ele foi visto por muitos como um campeão da nova liberdade sexual e foi apoiado por figuras literárias conhecidas da época, incluindo Allen Ginsberg, William S. Burroughs e Jack Kerouac.

“O único excelente escritor de prosa imaginativa que apareceu na língua inglesa nos últimos anos”.

George Orwell

A história por trás da história

Na primavera de 1927, Miller estava morando no bairro de Brooklyn Heights, no Brooklyn, com sua segunda esposa, June Miller, e a amante lésbica dela, Jean Kronski. Nesta época, ele havia conseguido um novo emprego trabalhando para o Parks Department. Um dia, ele voltou para casa e encontrou um bilhete dizendo que June e Jean haviam pegado um barco para Paris.

Após este fato, Miller voltou a morar com os pais no Brooklyn. Certa noite, em maio de 1927, ele ficou no escritório do Parks Department depois do trabalho e digitou um documento de 32 páginas que chamou de June, descrevendo os detalhes de seu relacionamento. Ele usaria o documento como material de origem para Trópico de Capricórnio, bem como a trilogia The Rosy Crucifixion (A Crucificação Rosada) ou Sexus, Plexus e Nexus.

Miller começou a escrever Trópico de Capricórnio a sério no fim de 1933, quando morava em Paris. Na época, ele também estava escrevendo Black Spring (Primavera Negra) e dando os retoques finais em Trópico de Câncer. No início, ele se referiu a Trópico de Capricórnio como “o livro de June”. Mas, embora referido assim, a segunda esposa é mais uma influência do que um personagem principal, fazendo apenas uma breve aparição. O livro é dedicado “A Ela”, em referência a June.

Enredo

O romance aborda a crescente incapacidade de Miller e a recusa total em se acostumar ao que ele vê como o ambiente hostil da América. O enredo é autobiográfico, mas não cronológico, saltando entre as aventuras adolescentes de Miller no Brooklyn nos anos 1900; lembranças de seu primeiro amor, Una Gifford; um caso de amor com seu professor de piano de quase 30 anos, quando ele tinha 15 anos; seu casamento infeliz com a primeira esposa Beatrice; seus anos trabalhando na Western Union (chamada The Cosmodemonic Telegraph Company no livro), em Manhattan, na década de 1920; e seu fatídico encontro com a segunda esposa, June (conhecida no livro como Mara), a quem ele credita por mudar sua vida e transformá-lo em escritor.

A Rosy Crucifixion (Crucificação Rosada – Sexus, Plexus e Nexus) continua a história de June, em mais detalhes, ao longo de quase 1.500 páginas, e também descreve o processo de Miller encontrar sua voz como escritor, até que eventualmente parte para Paris, onde as atividades retratadas em Trópico de Câncer começa.

Publicada entre 1949 e 1960, a trilogia da Crucificação Rosada é também uma ficção autobiográfica (se se pode usar este termo). Ambientados nos anos 1920 – os últimos da vivência americana de Miller, antes de sua partida para a Europa -, Sexus, Plexus e Nexus focalizam a organização da vida do protagonista/autor em torno de relações eróticas e seu intenso debate interno sobre a criação artística.

Sexus narra as aventuras sexuais e literárias de Miller em meio à boêmia nova-iorquina dos anos 20 e 30. Sua prosa é vigorosa, plena de energia, ao mesmo tempo cínica e inocente, secular e espiritual. O livro foi publicado em 1949.

Plexus, lançado em 1953, concentra-se nas redes e ligações do personagem (o plexo do título) com amigos, intelectuais, autores lidos, conhecidos e episódios do passado. Fazendo conexões entre pensadores, religiões, artistas e escritores ao longo dos tempos, Miller desloca seu personagem de rede em rede, de laço em laço, de influência em influência, enquanto tenta chegar ao cerne de sua existência e de seu desenvolvimento interior, para dar enfim a devida vazão a sua voz de criador.

Nexus,  de 1959, o terceiro dos três volumes, organiza esse acúmulo de experiências, sentimentos e idéias. Aqui ganham clareza tendências e noções “alternativas” que se espalhariam pelo mundo a partir do final da década de 60: o interesse pela arte e pela filosofia oriental; o desprezo pelas convenções pequeno-burguesas; as tentativas de síntese metafísica reunindo o radicalismo de Nietzsche, a concepção da história de Spencer, as experimentações narrativas e os impasses religiosos de Dostoiévski, que o autor aponta como suas principais influências. Mesmo circulando de maneira clandestina, a obra de Henry Miller chamou a atenção de contemporâneos como Ezra Pound e T. S. Eliot. Nos anos 60, com os livros liberados nos Estados Unidos, Miller foi definitivamente consagrado como um dos maiores prosadores de língua inglesa.

Resenha da editora

Deixe um comentário abaixo.

Descubra mais sobre Claudio Toldo

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue lendo