A interação espúria entre Estado e corporações

O Estado é um acidente trágico na vida humana, fruto da ignorância e da má fé, que permite que se organize à parte da sociedade um órgão todo-poderoso para dirigir os outros. É mister provar-se que a humanidade só pode sobreviver com essa forma de autoridade, que conhecemos, e não outra.

Mario Ferreira dos Santos, filósofo brasileiro

Por Cláudio Toldo

A citação acima é um primor de visão da realidade do filósofo Mário Ferreira dos Santos. O trecho abaixo entre aspas, no entanto, faz parte de um release da Fiesc ou do Senai. É sobre ele que vou observar alguns aspectos à luz de Mário Ferreira. Você, pessoa inocente, vai achar nada de errado na citação abaixo, mas, como eu vejo, é mais um fiasco da parceria Estado-Corporações. Depois do trecho entre aspas, os meus argumentos.

“Com apoio de iniciativa da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), coordenada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), empresas brasileiras inovaram para aumentar a fabricação nacional de respiradores pulmonares, equipamentos usados no tratamento de doentes graves da Covid-19. Um grupo de indústrias reunidas em seis projetos tem o potencial de produção mensal de até 8,2 mil ventiladores hospitalares, após as aprovações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desde que haja demanda contratada. Os ventiladores pulmonares artificiais são considerados cruciais nos estados graves da doença causada pelo novo coronavírus. Estima-se que cada respirador possa salvar de 10 a 20 pessoas”.

Perceba então:

1. Estamos há dois meses numa quarentena por causa da pandemia no Brasil e só agora este Estado modorrento mostra alguma ideia de buscar aparelhos na iniciativa privada brasileira. Por que isto? Porque o Estado e as corporações querem regulamentações para evitar concorrência e diminuição do preço de produtos (serve para qualquer produto também).

2. As associações corporativas, que só servem para estreitar o mercado e prejudicar o consumidor por falta de concorrentes, precisaram ser as intermediadoras. Lobby corporativo para que o circuito de benefícios seja restrito aos amigos do rei do momento.

3. “Empresas brasileiras inovaram para aumentar a fabricação nacional de respiradores pulmonares”. Aqui há uma falácia de marketing das mais comuns. Usam a palavra inovar como se toma água. Usar um parafuso de cobre no lugar de uma de alumínio já é uma inovação para os manés da área de administração em marketing e novos publicitários. A única inovação que daria resultado para melhorar de vez a oferta de produtos é a retirada de todas as regulamentações estatais. Deixem apenas as normas técnicas da ABNT que elas resolvem todas os problemas de produção de respiradores ou qualquer outro produto.

4. “Um grupo de indústrias reunidas em seis projetos tem o potencial de produção mensal de até 8,2 mil ventiladores hospitalares, após as aprovações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desde que haja demanda contratada”. Este item é o mais nefasto. Note que estas corporações que amam o Estado querem, além da reserva de mercado, a venda garantida. Para isso se valem do lobby das associações de empresas para cooptar o Estado e usam as agências reguladoras para barrar concorrência.

Moral da história para o bom entendimento: se o ferreiro da esquina pudesse fazer um respirador e vender sem precisar se esconder da Anvisa ou do Estado, você, seu bovino gadoso, poderia estar tranquilo porque teria respirador pra sua família e ainda pagaria mais barato que os governadores estão pagando por coisas que nem funcionam!!!


Cláudio Toldo é jornalista, lecionou em duas universidades do Sul de Santa Catarina e tem experiência em diversos meios de comunicação, atuando na área de reportagem em jornalismo impresso, planejamento gráfico e editorial, jornalismo educacional, jornalismo empresarial, assessoria de imprensa, planejamento em comunicação e webjornalismo.

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