Os caminhos sombrios no Brasil neste início de agosto

Caríssimos e baratíssimos

A entrevista do presidente Jair Bolsonaro na noite desta quarta-feira, dia 4, para a Rádio Jovem Pan pode ter precipitado movimentações mais acirradas do que o mero “tão esticando a corda”. Ela irá se romper nos próximos dias. As consequências da exposição do presidente não se darão pelo teor em si, mas pelo sentimento de defesa de quem foi novamente desmascarado nacionalmente. E isto, para qualquer mortal, é algo inaceitável.

Ser desmascarado como mentiroso, como agente de uma política de esquerda que roubou o povo brasileiro e como leniente ao ver indícios de crimes e nada fazer, realmente, é dose para leão. O ministro do Superior Tribunal Federal Luís Roberto Barroso vai dormir pensando no seu próximo golpe e vai acordar querendo colocá-lo em prática nas primeiras horas.

No mesmo dia, uma das manchetes do Estadão, veículo de comunicação que faz parte da chamada extrema-imprensa, dizia: “Para juristas, ações do TSE podem tirar Bolsonaro da eleição de 2022”, que ouviu os suspeitos usuais de sempre para confirmar suas crenças. Ouviu e deu mais destaque para o ex-presidente do TSE Carlos Velloso.

O mais incongruente da exposição é que Veloso disse: “Se há notícias falsas, há práticas de crime”. Isto vale para ministros do STF também? O Barroso afirmou que o sistema é inviolável, mas o inquérito da Polícia Federal exposto por Bolsonaro diz o contrário. Ele não sabia (ou agora sabe) deste inquérito sendo presidente do TSE?

Ser colocado como réu num inquérito pela caneta do xerife Alexandre de Morais foi o momento de maior tesão até agora da corta esticada neste embate entre Executivo e Judiciário. Ainda que o respingo da tinta da caneta nesta decisão do ministro tenha sido sentido como uma cusparada por Bolsonaro, e o tenha exortado à promover, ao lado deputado federal Filipe Barros, a entrevista para o programa Pingos nos Is, o que vem por aí do lado de Barroso pode ser a gota d’água a romper a corda.

Neste cabo de guerra imaginário usado pela mídia para exemplificar o conflito institucional, de um lado estarão nesta quinta-feira, dia 5, provavelmente o deputado Eduardo Bolsonaro colhendo assinaturas para uma CPI das Urnas na Câmara dos Deputados e algum senador pedindo o impeachment imediato de Barroso, se já não havia motivos para isto; e do outro, os atos ainda não sabidos do ministro Barroso, que pode ter ainda a ajuda de colegas magistrados do TSE, já que, ao mostrar o inquérito da Polícia Federal ainda não concluído sobre uma ação de hackers no sistema do tribunal em 2018, o coloca também de um lado da corda.

“O ministro Barroso usa argumentos mentirosos. É triste um ministro da Suprema Corte mentir desta maneira”, afirmou Bolsonaro na entrevista.

Qual será ação de Barroso? Qual será a ação do TSE? Como vai reagir Moraes, que também foi admoestado pelo presidente na entrevista?

Estes caminhos de agosto de 2021 estão tão sombrios como os primeiros dias do mesmo mês em 1954. Não naquilo que ocorreu na madrugada do dia 5 de agosto de 54, mas naquilo que tal ato precipitou o Brasil.


Cláudio Toldo é diretor da Editora Awning. Lecionou em duas universidades do Sul de Santa Catarina e tem experiência em diversos meios de comunicação, atuando na área de reportagem em jornalismo impresso, planejamento gráfico e editorial, jornalismo educacional, jornalismo empresarial e assessoria de imprensa, planejamento em comunicação e webjornalismo.

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