A Luta Armada na Argentina

Documentário do Youtube feito pela Incomunicado. Por conta das imagens, o vídeo só pode ser visto por maiores de 18 anos e logados.

Os Montoneros, as Forças Armadas Revolucionárias e o Exército Revolucionário do Povo dividiram as barbáries em busca de um estado socialista.

A luta armada argentina compreende períodos de regime militar intercalados por governos peronistas e do partido União Cívica Radical.

Juan Domingo Perón governava em 1955 quando foi destituído pela Revolução Libertadora dos generais Eduardo Lonárdi e Pedro Eugênio Aramburu. Perón foi para o exílio em Madri.

Em primeiro de maio de 1958, a Argentina voltava a ser democrática e passava a ser governada então durante oito anos por presidentes da União Cívica Radical, partido membro da Internacional Socialista e que rivalizava com o Partido Justicialista, também chamado de Peronista.

Esta sequência de governos da União Cívica Radical foi desestabilizada pela autodenominada Revolução Argentina, que tomou o poder em 1966 com o revezamento dos generais Juan Carlos Onganía, Roberto Levinston e Alejandro Lanusse.

Após a Revolução Argentina chegar ao fim por decisão dos militares em 1973, o país caiu novamente na mão do peronismo, numa sucessão breve de Héctor Cámpora e Raúl Lastíri, que renunciaram para ocorrer uma nova eleição e Juan Domingo Perón poder disputá-la. Sua terceira mulher, María Estela Martínez de Perón era a candidata à vice.

Peron morreu em julho de 1974, com apenas 262 dias no governo. Sua viúva, Isabelita, ascendeu ao poder por um ano e 267 dias, sendo deposta em 1976 por um novo golpe militar, que enfrentou então com mais rigor as guerrilhas urbanas.

As raízes dos Montoneros

Os Montoneros foram uma organização terrorista da Argentina de guerrilha urbana marxista leninista cujo propósito era o estabelecimento de um estado socialista no país.

As raízes do movimento Montoneros estão na década de 1960, na confluência de militantes do socialistas católicos pertencentes a classes média e alta e que se aglutinavam ao redor da revista Cristianismo y Revolución, dirigida por Juan García Elorrio, e do grupo conduzido por José Sabino Navarro. Já no fim da década de 1960, eles se organizaram politicamente junto ao peronismo revolucionário e se consideravam ideologicamente como uma mistura da doutrina peronista, com elementos do marxismo latino-americano revolucionário provenientes de Che Guevara e de Fidel Castro, recebendo fortes influências católicas do Movimento de Sacerdotes para o Terceiro Mundo, que era liderado pelo padre Carlos Murrica.

As ações dos revolucionários

A primeira ação pública armada dos Montoneros ocorreu em 1º de junho de 1970, com o sequestro e assassinato do general Pedro Eugenio Aramburu, que fora a cabeça da Revolução Libertadora.

Aramburu foi submetido a “julgamento revolucionário” numa chácara da localidade de Timoteo, província de Buenos Aires, e acusado de traição à pátria pelos fuzilamentos em 9 de junho de 1956 nas lixeiras de José León Suárez, na Grande Buenos Aires, durante a Revolução Libertadora, e pela execução do terrorista marxista Fernando Abal Medina, um dos fundadores dos Montoneros.

Um mês depois, em 1º de julho de 1970, às 7 e meia da manhã, assaltaram o Banco da Província de Córdova de La Calera, na Central Telefônica, e deixaram uma caixa supostamente de explosivos, que na realidade continha um gravador com a marcha peronista. Nesta ação, vários militantes foram presos, entre eles alguns fundadores da organização; e o guerrilheiro Emílio Maza morreu na troca de tiros.

As Forças Armadas Revolucionárias

A estrela de oito pontas, símbolo das forças armadas revolucionárias, surgiu pela primeira vez em 1970, um mês depois que os Montoneros tomaram La Calera. Em 30 de julho de 1970, quarenta guerrilheiros tomaram por uma hora a cidade de Garin, a principal base militar do país. Eles picharam paredes se autodenominando “FAR”, jovens do Partido Comunista e da Federação da Juventude Comunista, sob a liderança de Carlos Olmedo, Juan Pablo Maestre e Roberto Quieto.

FAR e Montoneros foram se aproximando e atuando em conjunto, até que em 1973 se fundiram. Em 27 de agosto daquele ano, o Comando Emilio Maza Montonero (homenagem ao companheiro morto em La Calera) executou o sindicalista José Alonso, um dos líderes do sindicalismo argentino que deixou de lado o objetivo de lutar pelo retorno de Perón e promoveu a participação do movimento operário no governo militar.

A relação com Perón

Os Montoneros tinham um papel importante no desgaste do governo militar enquanto Juan Domingo Perón estava no exílio em Madrid. Perón os alentava, pois a lealdade desta organização era útil para pressionar e desestabilizar a “Revolución Argentina”. Perón os chamava de “formações especiais”, dando a entender que a existência dos Montoneros era uma circunstância temporária e tática que se justificava pela existência de um regime militar. Os Montoneros se acreditavam a vanguarda revolucionária funcional dos planos do Perón para a construção de uma Pátria Socialista.

O massacre de Ezeiza

Em 20 de junho de 1973, menos de um mês após a posse do novo governo democrático liderado pelo presidente Héctor Cámpora, ocorreu o retorno definitivo de Perón à Argentina. O avião que trazia Perón de volta estava programado para pousar no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, razão pela qual uma multidão se reuniu na área esperando para ver e ouvir o líder do peronismo em um palco elevado.

A operação de retorno foi delegada ao Coronel Jorge Osinde, da ala mais próxima a Perón, excluindo a Polícia Federal sob o comando de Estêban Righi, funcionário próximo aos Montoneros, que como Ministro do Interior, era responsável pela segurança natural do país. Osinde juntou uma força de cêrca de 300 homens armados, vários deles com armas longas, recrutados entre ex-soldados peronistas.

Pouco depois do meio-dia, quando milhares de pessoas se aproximaram do local do discurso, houve um tiroteio entre os responsáveis pela segurança sob as ordens de Osinde e militantes armados com armas curtas dos Montoneros. O resultado foram 13 pessoas mortas e 365 feridas.

Três dias depois das eleições realizadas em 23 de setembro de 1973, com uma vitória esmagadora de Perón, que obteve 61,85% dos votos, houve o assassinato do secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho da República Argentina, José Ignacio Rucci.

Dois anos depois, os Montoneros reivindicaram explicitamente o crime na página 18 de seu órgão oficial de imprensa, a revista Evita Montonera nº 5, onde em um artigo referente ao Massacre de Ezeiza e intitulado “Justiça Popular”, inclui o nome de Rucci na lista de pessoas executadas.

O namoro de Peron com os Montoneros acabou em Primeiro de Maio de 1974, nos festejos pelo Dia do Trabalho. Perón era presidente, e indignado pelos cânticos ofensivos vindo das colunas montoneras contra a sua esposa e seu ministro da previdência social José López Rega, em discurso na varanda da Casa Rosada, chamou os Montoneros de jovens estúpidos. A reação dos militantes e simpatizantes montoneros provocou alguns confrontos e a imediata retirada deles da praça. Eles passaram ali, de fato, à clandestinidade e romperam de vez com o peronismo quando Isabelita assumiu.

No governo Isabelita Perón, a Aliança Anticomunista Argentina, a Triple A, um grupo de extermínio comandado por José López Rega, neste momento ministro do Bem-Estar Social e guru espiritual da presidente, havia assassinado o ex-vice-governador de Córdoba, Atílio López. López Rega, ou El Brujo, como era conhecido, deixaria o governo no ano seguinte acusado de desvios de recursos, e seria preso uma década depois.

No dia seguinte a este assassinato, os Montoneros sequestraram os irmãos Juan e Jorge Born, herdeiros do terceiro maior conglomerado produtor e exportador de cereais da Argentina, numa ação que rendeu um resgate de 60 milhões de dólares. O rapto ocorreu em 19 de setembro de 1974. Os dois foram soltos com vida. Juan aos seis e Jorge aos nove meses de cativeiro.

A metralhadora giratória do Exército Revolucionário do Povo

O Exército Revolucionário do Povo foi o ramo guerrilheiro do Partido Revolucionário dos Trabalhadores, um partido comunista da tradição marxista leninista. Durante a década de 1960, os membros deste movimento estavam associados a Che Guevara.

Liderados por Mário Roberto Santucho, eles se lançaram numa campanha de guerrilha urbana contra o regime militar argentino desde 1969, com assassinatos e sequestros.

Em 21 de março de 1972, Oberdan Sallustro, empresário ítalo-paraguaio, diretor geral da FIAT Concord na Argentina, foi sequestrado por seis homens e uma mulher do Exército Revolucionário do Povo. Ele foi fotografado em cativeiro para prova de vida e pedido de resgate, mas acabou morto a tiros em 10 de abril daquele ano, depois que o local onde estava escondido foi descoberto pela polícia. O caso teve impacto internacional.

Em 1973, Enrique Gorriaran Merlo e Benito Urteaga, lideraram o sequestro do executivo da Esso, Victor Samuelson, e obtiveram um resgate de 12 milhões de dólares.

O ERP continuou a campanha violenta mesmo após as eleições democráticas e o retorno ao regime civil em 1973 com Juan Perón. Segundo a imprensa da Argentina, este grupo fez 166 roubos a bancos e conseguiu 76 milhões de dólares em resgates pelo sequestro de 185 pessoas. Em ataques a postos militares, delegacias de polícia e comboios, a guerrilha matou 57 policiais em 1971, e, no ano seguinte, outros 38 policiais morreram em combate.

Em 28 de dezembro de 1972, o soldado da Marinha e terrorista Júlio César Provenzano morreu quando a bomba que ele plantou em um dos lavatórios do Quartel General Naval Argentino explodiu antes do esperado.

Em 3 de abril de 1973, nove jovens, homens e mulheres, invadiram um apartamento no centro da cidade de Buenos Aires e sequestraram o contra-almirante Francisco Agustín Alemán, que ficou em cativeiro por dois meses.

À meia-noite de 19 de janeiro de 1974, um grupo de 120 membros do Exército Revolucionário Popular, chamados de Companhia Heróis de Trelew em referência ao Massacre de Trelew de 1972, durante o qual 16 guerrilheiros de esquerda que tentaram escapar da detenção foram mortos a tiros, atacou uma das maiores e mais poderosas unidades militares do país: o 10º Regimento de Cavalaria Blindada e o Grupo de Artilharia Blindada, com sede em Azul, província de Buenos Aires. O grupo matou o coronel-comandante Camilo Arturo Gay, e sua esposa Hilda Irma Casaux; e sequestrou e depois executou o tenente-coronel Jorge Ibarzabal. Patrícia Gay, filha do coronel, na época com 14 anos, viu como seu pai foi metralhado e depois sua mãe foi executada com um tiro na cabeça. Ela caiu em depressão severa e cometeu suicídio em 5 de outubro de 1993.

Em agosto, fizeram um ataque à fábrica de explosivos Villa Maria, do Exército Argentino, em Córdoba, e ao 17º Regimento de Infantaria Aerotransportada, em Catamarca, com a presença de 70 guerrilheiros vestidos com uniformes do exército. Mataram oito policiais e soldados, mas 16 guerrilheiros também foram mortos.

Durante este ataque em Villa Maria foi sequestrado o coronel Argentino del Valle Larraburu, que ficou em cativeiro durante 372 dias até ser morto enforcado após cantar o hino nacional da argentina.

Em 23 de outubro de 1974, guerrilheiros do Exército Revolucionário Popular mataram a tiros o tenente-coronel José Francisco Gardón quando saía do hospital de Buenos Aires, onde se especializava em doenças do sangue.

Em 18 de agosto de 1975, o capitão Miguel Alberto Keller, acompanhado por um suboficial e cinco recrutas, foi forçado a parar seu caminhão do exército no que eles acreditavam ser um posto de controle militar, e Keller foi morto a tiros ao se aproximar dos guerrilheiros do Exército Revolucionário Popular que esperavam em emboscada.

Migração para o interior

Em 1973, o Exército Revolucionário do Povo fez uma mudança estratégica para o meio rural.

Queriam garantir uma grande área de terra como base de operações militares contra o estado argentino e optaram por ocupar a província de Tucumán, na borda do altiplano andino, região pobre no canto noroeste da Argentina, com a Companhia de Montanha Ramón Rosa Jimenez, que era formada por guerrilheiros treinados em Cuba.

Em julho de 2008, o líder cubano Fidel Castro admitiu que apoiava os guerrilheiros na América do Sul: “O único lugar onde não tentamos promover uma revolução foi no México. Em todos os outros lugares, sem exceção, tentamos”, disse Fidel.

Em dezembro de 1974, o exército revolucionário, liderado por Mario Roberto Santucho, logo estabeleceu o controle sobre um terço da província e organizou uma base ao redor de 2.500 simpatizantes. Isso, mais o aumento da violência urbana realizada pelos Montoneros no governo de Isabelita Perón, fez a governante emitir decretos de aniquilação dos terroristas e deu mais poder aos militares, principais alvos de assassinatos pelos guerrilheiros. Entre 1973 e 1974 foram mortos 83 militares.

Em fevereiro de 1975, cêrca de 5.000 soldados colocados sob o comando do Brigadeiro-General Acdel Vilas, se deslocaram para as montanhas de Tucumán na Operação Independência. Até caças A4B Sky Hawk e os bombardeiros B62 Canberra, da Força Aérea Argentina, foram usados no combate aos guerrilheiros.

O general Vilas também desbaratou a guerrilha urbana nas cidades, usando as táticas de prisão, tortura para delações de guerrilheiros, e mais prisões ou mortes em trocas de tiros nas tentativas de prisão.

Em maio de 1975, o representante do Exército Revolucionário Amilcar Santucho, irmão do líder Mário Roberto, foi capturado tentando atravessar para o Paraguai, onde promoveria o esforço de união dos movimentos revolucionários na américa-latina. Como forma de se salvar, ele forneceu informações sobre a organização que permitiram às agências de segurança argentinas destruírem o que restava do Exército Revolucionário.

Com isso, dois meses depois, em agosto, o exército argentino descobriu o acampamento base dos terroristas no altiplano andino.

E, em setembro, invadiram o quartel-general urbano dos revolucionários, que acabaram mortos ou presos.

Mas em 5 de outubro de 75, mais de cem terroristas de esquerda executaram o sequestro de um avião civil no aeroporto após o roubo de armas no quartel do 29º Regimento de Infantaria na província de Formosa. Eles fugiram de avião, um Boeing 737, que acabou pousando em uma lavoura na cidade de Rafaela. Nesta ação, 12 soldados e 2 policiais foram mortos.

A ousadia foi repetida em 23 de dezembro de 1975 e a operação foi dramática em seu impacto. Guerrilheiros do Exército Revolucionário do Povo, apoiados por Montoneros, atacaram em grande escala a base de suprimentos do exército no subúrbio industrial de Monte Chingolo, ao sul de Buenos Aires. Os terroristas desta vez levaram a pior e 62 acabaram mortos. Sete soldados do exército e três policiais também morreram na troca de tiros.

Em 30 de dezembro, uma bomba explodiu no quartel-general do Exército Argentino em Buenos Aires, ferindo pelo menos seis soldados.

Aos olhos dos militares, a credibilidade do governo de Isabelita Perón estava agora destruída. Até o fim de 1975, um total de 137 militares e policiais foram mortos naquele ano por guerrilheiros de esquerda. Ao fim de 1976, o número de mortos era de 293 militares e policiais argentinos.

A gota d’água foi o atentado em 11 de fevereiro de 1976. O coronel Raúl Rafael Reyes, comandante de um Grupo de Artilharia de Defesa Aérea, foi morto e dois recrutas do exército ficaram feridos em uma emboscada de seis guerrilheiros do Exército Revolucionário do Povo no subúrbio de La Plata, em Buenos Aires.

A insatisfação dos militares argentinos, alvos principais do terrorismo socialista, fixou-se no tenente-general Jorge Rafael Videla como solução para o governo. Os militares argentinos depuseram então Isabelita Perón em 24 março de 1976 e iniciaram uma perseguição implacável sobre os guerrilheiros.

Em 29 de março de 1976, o Exército Revolucionário do Povo teve 12 guerrilheiros mortos em um tiroteio no centro de Buenos Aires. Mario Roberto Santucho e outros 50 guerrilheiros conseguiram escapar.

Os militares e a polícia da Argentina obtiveram mais sucesso em meados de abril em Córdoba, onde 300 militantes encarregados de apoiar as operações terroristas naquela província acabaram mortos.

Em 19 de julho de 1976, às 15 horas, um grupo militar invadiu um apartamento no segundo andar de uma casa da rua Venezuela, em Villa Martélli, e mataram Benito Urteaga e feriram o líder guerrilheiro Mario Roberto Santucho, que foi posteriormente morto ou, ferido a bala que havia sido, deixado para morrer. Seu corpo está desaparecido desde então.

Na emboscada secreta realizada pela força-tarefa militar, o capitão Juan Carlos Leonétti, que liderava a operação, também foi morto. Em depoimento sobre o caso, foi dito que Urteaga e Santucho estavam rendidos, mas Urteaga tirou a arma de Leonétti e atirou e o matou. Os outros policiais então revidaram e mataram Urteaga e feriram Santucho.

Em uma das malas de Santucho foi descoberta uma lista com os nomes de 395 integrantes do grupo Juventude Guevarista e de comandantes do Exército Revolucionário do Povo, juntamente com um conjunto de planos indicando as intenções do grupo de realizar atentados durante a Copa do Mundo de 1978, realizada na Argentina.

O Exército Revolucionário do Povo continuou por pouco tempo sob a liderança de Enrique Gorriaran Merlo, mas logo estava extinto. Merlo se aliou aos sandinistas da Nicarágua em 1979 e se envolveu ativamente na luta revolucionária de lá, inclusive sendo o articulador do atentado que matou o ex-ditador Anastásio Somoza em 1980 no Paraguai.

Enrique Gorriaran Merlo voltou da Nicarágua em 1987 para se tornar um líder do Movimento Todos Pela Pátria e comandou um ataque em 1989 ao Regimento Tablada, durante o qual foi capturado. Vinte e quatro horas depois do ataque, quando o Exército retomou o controle da instalação, havia 39 mortos, a maioria deles entre os invasores e inclusive uma brasileira casada com um argentino do movimento.

O ataque foi feito sob a alegação de deter um suposto plano golpista de militares descontentes com a democracia. Esse tipo de protesto colocou o governo de Raúl Alfonsín contra a parede por três vezes entre 1987 e 1989.

Tortura, estupros e guerrilheiros jogados de aviões!

Pelo menos 9 mil pessoas desapareceram durante os combates entre terroristas e militares da Argentina de 1976 a 1983.

Prêambulo

Quem ataca primeiro, na literatura jurídica, comete uma agressão ou um crime. Portanto, o revide é até justificável e, em muitos casos, perdoado. Entre países, o que atira primeiro é o agressor, dando aval à réplica do agredido. Este é o caso de todas as lutas armadas socialistas, que agrediram primeiro alegando a maldade do capitalismo.

Mas, da mesma forma, a força excessiva e desmensurada gera a antipatia. Um exemplo disso é o caso de Theon Greijoy, na ficção Game of Thrones, que no começo da série era amigo, depois se tornou um carrasco terrível, mas em seguida foi capturado e torturado por Ransay Bolton, um personagem ainda mais terrível, que fez com que a audiência voltasse a ter apreço por Theon por causa do seu sofrimento.

Isto explica o asco que a opinião pública acabou tendo dos militares. E que acabou reforçado na guerra cultural que se seguiu e que foi vencida pela esquerda. Colaboradores civis ativos, mas não engajados nas guerrilhas, estudantes não violentos, intelectuais e ativistas políticos que formavam a base social e não combatente dos terroristas de esquerda, como em toda a américa latina, ocuparam universidades, as artes e a imprensa. Por causa do que se dizia nas artes e na imprensa, a opinião pública da argentina, como nos outros países da américa-latina, passaram a ver as ações dos terroristas socialistas como algo justificável, e a luta dos militares pela ordem apenas como truculência governamental.

Esta espécie de lobotomia da imprensa, da literatura e das artes em geral mudou tanto o pensamento da população que foi normalizada a luta socialista não no campo das ideias, mas em ações de assaltos e sequestros para se financiar e armar, e assassinatos para se eliminar o outro lado.

Prova desta normalização é que cêrca de 11.000 familiares de guerrilheiros terroristas de esquerda argentinos receberam até 200.000 dólares cada como compensação monetária pelas perda de entes queridos durante esta guerra interna de lados ideológicos.

Do outro lado, já no primeiro governo após a redemocratização, o de Raúl Alfonsín, se encaminhou uma série de julgamentos contra militares argentinos acusados ​​de violações de direitos humanos contra os terroristas de esquerda.

E eles realmente foram cruéis, como veremos a seguir!

O regime militar na argentina protagonizou nos 7 anos entre 1976 a 1983 a mais terrível perseguição aos comunistas na América Latina, usando até de empalamento para torturar e assassinar terroristas e militantes de esquerda. Também eliminou pessoas que considerava subversivas de várias formas.

Voos da morte!

Uma destas formas foi jogar pessoas vivas ou seus corpos de aviões sobre o Rio da Prata ou o Oceano Atlântico após as torturas. Um dos casos mais sinistros ocorreu contra o adolescente Floreal Avellaneda, sequestrado aos 14 anos no dia 15 de abril de 1976. Filho de um casal de sindicalistas militantes do Partido Comunista, Floreal sofreu torturas nas mãos e genitais. Depois, foi empalado vivo com um cabo de vassoura. O corpo dele foi encontrado sete dias depois pela polícia uruguaia em uma praia perto de Montevidéu. Ele havia sido arremessado de um dos aviões que realizavam os voos da morte sobre o Rio da Prata.

O ex-capitão da marinha Adolfo Scilingo, disse em seu julgamento na Espanha em 2005, que os voos da morte eram parte de um plano de eliminação dos corpos dos desaparecidos. Scilingo foi condenado a 640 anos de prisão, por crimes contra a humanidade.

A Marinha tinha os voos da morte como eliminação preferencial, mas a Aeronáutica e o Exército, que também realizaram este procedimento em menor escala, preferiam o enterro dos cadáveres em valas comuns clandestinas.

Os voos da morte acabaram por ser revelados na época pelo surgimento de cadáveres nas praias do Uruguai. Lá também havia um regime militar que combatia terroristas da esquerda e isto causava constrangimento a eles que não usavam tais métodos. Os pilotos argentinos deixaram de arremessar os prisioneiros na área do Rio da Prata e começaram a fazer voos até o oceano atlântico, mas as correntes marítimas continuaram levando os corpos para as costas uruguaias.

Torturas!

Os métodos de tortura dos militares argentinos também extrapolaram qualquer crueldade já vista. Havia situações de amarrar prisioneiros em grupos e dinamitá-los; introduziam ratos vivos no ânus ou na vagina de homens ou mulheres; esfolavam os pés dos prisioneiros com navalhas; os empalavam com cabos de vassoura; faziam o submarino molhado, que era mergulhar a cabeça da pessoa em tanques de água, às vezes com fezes humanas nela; faziam o submarino seco, que consistia em colocar a cabeça do prisioneiro dentro de um saco plástico e esperar que ele ficasse quase asfixiado; além disso promoviam choques, palmadas, destroncamentos de dedos, cortes e o que mais surgisse. Como misericórdia, se não morressem na tortura, eram fuzilados.

Estupros!

Os casos de estupros transcorreram a dezenas de mulheres detidas nos centros de tortura. Em depoimentos, vítimas mulheres disseram que ocasionalmente recebiam a opção de serem estupradas ou de serem eletrocutadas na parte interna da vagina e ânus. Geralmente elas eram amarradas nuas às camas nas celas. Primeiro eram torturadas com choques elétricos nos mamilos e nos órgãos genitais. Posteriormente eram violadas por um ou mais torturadores. Ocasionalmente, um dos repressores reclamava exclusividade sobre a mulher estuprada. Os militares e policiais costumavam preferir as estudantes universitárias jovens. E quando um casal era detido, os sequestradores violavam a esposa na frente do marido.

Uma destas mulheres foi Marie Anne Erize, de 22 anos, que também tinha a cidadania francesa. Ela se mudou para a província de San Juan, pouco após o golpe militar. Em outubro de 1976, ao sair de uma loja de bicicletas, onde havia ido trocar um pneu furado, foi sequestrada e levada para o centro clandestino de torturas La Marquesita pelo então tenente Jorge Antonio Olivera, chefe de inteligência da Infantaria de San Juan, que a estuprou em diversas ocasiões, antes de matá-la. O tenente Olivera havia morado durante sua infância e adolescência na mesma cidadezinha de Marie Anne, a apenas um quarteirão de distância um do outro.

Números sem especulações!

Nos registros da Comissão Nacional de Pessoas Desaparecidas da Argentina existem 9 mil denúncias de pessoas desaparecidas. Na imprensa, este número é dito entre 10 mil e 30 mil. Segundo declarações dos ex-presidentes do regime militar, Jorge Rafael Videla e Reynaldo Binhone, nas investigações e registros após a redemocratização, houve o assassinato de 8 mil civis envolvidos na subversão.

Em 1983, nos últimos meses do regime, um relatório das próprias forças armadas argentinas indicou que a guerrilha e grupos terroristas de esquerda teriam assassinado novecentas pessoas entre militares e civis.

Segundo dados das Avós da Praça de Mayo, os militares sequestraram 500 bebês, filhos das mães desaparecidas. Mais de 120 crianças destas foram recuperadas ou identificadas por suas famílias biológicas na redemocratização.

Os principais torturadores foram:

O capitão de corveta Jorge “Tigre” Acosta, um dos criadores dos voos da morte. Ele falava sozinho à noite e dizia aos colegas e prisioneiros que mantinha longas conversas noturnas com o pequeno Jesus, que dizia quem ele deveria torturar no dia seguinte.

Alfredo Donda Tigel, que sequestrou seu próprio irmão e a cunhada, que eram militantes da esquerda. Depois de assassinálos, ficou com as filhas bebês do casal.

O oficial da Polícia Federal Ernesto Weber, que foi apelidado de 220 pelos colegas pelo prazer que sentia em aplicar choques nas torturas. Era o professor de torturas dos oficiais de Marinha.

O ex-Chefe da Guarda Costeira Héctor Febres, que torturou bebês e crianças para arrancar confissões dos pais. Sobreviventes relatam que ele aplicava choques elétricos nos prisioneiros e gargalhava ao ouvir os gritos deles. Febres morreu no dia 10 de dezembro de 2011, após tomar cianureto.

Raúl Rebaynera, da prisão de La Plata. Sempre que chovia, Rebaynera colocava música e passava pelas celas espancando os prisioneiros. Dizia a eles: “Se te dou 15 socos e você não gritar, te deixo na cela. Se gritar, vai pra sala de tortura por 15 dias”.

El Turco Julián Simón, que ouvia a marcha do Terceiro Reich e ostentava uma suástica no uniforme enquanto torturava. Jogava água fervendo em cima de seus prisioneiros entre outros absurdos. Segundo o depoimento da ex-prisioneira Susana Caride, Simón fazia festas e as interrompia para iniciar uma sessão de violentas torturas. Juan Agustín Guillén, outro ex-prisioneiro, contou que Simón tinha especial sanha contra José Poblete Roa, um jovem militante peronista que havia perdido as pernas em um acidente. Simón tirou a cadeira de rodas de Poblete e se divertia às gargalhadas jogando-o do alto de uma escada. Poblete e a mulher Gertrudes Hlaczik sofreram horrores em 1978. El turco fazia Gertrudes andar nua pelos corredores, enquanto Poblete devia se arrastar com as mãos pelo chão. O casal é um dos desaparecidos do regime. A filha deles, Claudia, de apenas oito meses foi sequestrada por El Turco e teve sua identidade ocultada até a redemocratização. Em um vídeo, Simón admitiu apenas tortura com choques elétricos para acelerar os interrogatórios e confessou que o critério geral era o de “matar todo mundo”. El Turco Julián Simón, hoje com 82 anos, foi condenado a prisão perpétua em 2006 e ainda está preso.

O ex-capitão Alfredo Astiz, apelidado de O Anjo Loiro da Morte, que esteve a frente dos assassinatos de três fundadoras das Mães da Praça de Maio e das freiras francesas Alice Domon e Leonie Duquet. Elas foram sequestradas em dezembro de 1977 na Igreja de Santa Cruz, e torturadas com choques nos genitais, assassinadas e arremessadas de um avião sobre o Rio da Prata.

E, por comandar tudo, o ex-presidente Jorge Rafael Videla, que morreu em maio de 2013. Quando faleceu estava cumprindo prisão perpétua na penitenciária de Marcos Paz pelo sequestro, tortura, assassinato de civis e roubo dos bebês filhos dos desaparecidos.

Após as barbáries!

Assim, após toda essa barbárie dos militares argentinos, e ainda que não começassem a guerra, os que faziam terrorismo com assaltos, sequestros e assassinatos se tornaram os bonzinhos que agiram legitimamente contra capitalistas. Os militares que evitaram o socialismo revolucionário nos moldes de Cuba, Coreia do Norte, China e União Soviética, e buscavam a ordem, viraram os maus.

Com a guerra cultural hoje já perdida, pois não importa o que se diga, mesmo que todos os registros dos próprios grupos guerrilheiros declarem que eles buscavam apenas a troca de poder para o socialismo e tornariam seus países em exemplos como Cuba ou Venezuela, nada é aceito pela Grande Imprensa senão a ideia de um crime contra o povo que pedia o fim da ditadura.

As guerrilhas lutavam apenas e tão somente pelo poder e controle socialista das pessoas e alegavam sempre realizar as ações em nome do povo.

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